FOMOS AO CINEMA E OLHA NO QUE DEU
Às 15h30, passo aí, beleza? Beleza. Às 15h20, eu já estava pronta apesar de ter trocado de roupa três vezes. Ele só chega 17 minutos depois. Blitz, sabe como é. Sei como é. Estava tudo combinado desde segunda-feira. Iríamos assistir Moana, o filme da Disney. Qual o horário da sessão? 16hrs. Será que dá para chegar no cinema em dez minutos? O trânsito na 24 de Maio nos dava a resposta: não.
Estava tudo combinado, mas chegamos no cinema com quatro minutos de atraso - embora nós jurássemos que chegaríamos com pelo menos uns dez. Ainda tem ingresso para Moana, às 16hrs? A sessão está lotada, senhor. Que horas é a sessão seguinte? Não tem sessão seguinte, senhor. Ah, não. Nós podemos assistir sentados na escada, não tem problema nenhum. Por favor! Isso é proibido, senhor.
Ficou tudo descombinado. E agora? Sei lá. Tem alguma coisa que você queira assistir? Eu assisto o que você quiser assistir, tô com você. Eu também, escolhe aí. Minha Mãe É Uma Peça 2? Assistimos quando estreou ano passado, lembra? Assassins' Creed? O que diachos é isso? É o filme de um jogo, amor. Você sabe que eu não entendo nada dessas coisas de jogos! Tem cara de ser violento, tem até a palavra assassino no título. Você joga? Não. Quer assistir? Não tenho vontade. Tudo bem. Voltamos a olhar o painel para em seguida nos entreolharmos. Não podia ser verdade, tudo menos isso. Você quer? Só se você também quiser. Você disse que queria assistir quando assistiu ao trailer! Ah, mas só se alguém me convidasse para assistir. Eu tô te convidando, então. Tem certeza? Tenho, ué.
Veja bem, não é como se houvesse outra opção. Eram 16hrs da tarde no Rio de Janeiro. Era isso ou perambular pela rua debaixo do sol escaldante - e eu nem havia passado protetor solar antes de sair de casa. Se fosse para fazer isso, seria melhor ter ido a praia. Voltar para casa não era uma opção. Bem, pelo menos no cinema tem ar condicionado, né?
Entramos na fila novamente. Nada de Moana dessa vez, ok. Duas meias para..., ele sussurra. Desculpa, senhor? Duas meias para a sessão de 17h30 de..., ele volta a sussurrar. 17h30 de Eu- É, esse mesmo. Obrigada e boa sessão, senhor.
Ingressos comprados. Ainda falta uma hora e meia para começar a sessão. Sentamos para conversar e falamos sobre coisas da vida. Sei que isso soa bem filosófico, mas naquele momento, as coisas da vida se resumiam à resultados de vestibular, notas de corte e aquela sensação tão comum de estar perdido. 17h15. Vamos? Vamos. Pega o ingresso. Já peguei. Onde fica o nosso assento? 1 e 2, fileira E.
Sentados em nossos assentos. Confortáveis. Tá frio aqui, né? É, um pouco. Não acredito que estou fazendo isso. Nem eu. Ao meu lado, se sentam um menininho e seu avô. Eles tiram aquelas selfies típicas de cinema em que a pipoca rouba a cena. E eu penso o quão fofos são e como seria legal ir ao cinema com meu avô também, embora eu tenha certeza de que ele dormiria ainda nos trailers.
A sala começa a encher e talvez não seja tão ruim assim, tento convencer a mim mesma. Pelo menos não somos os únicos e talvez não seja tão mico assim estar aqui. As luzes vão se apagando devargazinho - a melhor parte do cinema - e dão início aos trailers. Uma comédia nacional, um filme estrangeiro sobre cachorro, outro filme estrangeiro. O filme começa do mesmo jeito que todos: com o meu saco de pipoca já pela metade. Ok, só relaxe e aproveite. Não pode ser pior que aquele filme de espionagem que meu namorado insistiu em me levar para assistir. E se mamãe estivesse aqui, ela diria que não pode ser pior que Xuxa e os duendes. Cinco minutos depois, o cinema está rindo. O menininho e seu avô também. Meu namorado, ao meu lado, também. E, por incrível que pareça, eu também.
O filme transcorre bem, embora minha pipoca tenha acabado antes mesmo de chegar na metade. Trocamos risadas em vários momentos e na maior parte do tempo, eu simplesmente havia me esquecido de quem o filme se tratava. Era só mais uma história sobre erros cometidos na adolescência em busca de status.
No fim, não foi o filme que realmente importou. O que importou de verdade foi estar numa sala de cinema com a temperatura da Islândia, vendo um menininho e seu avô, que em muito me lembrou o meu, rirem felizes; estar bem acompanhada e fazendo feliz a pessoa que, embora não assuma, queria assistir a esse filme; comer pipoca de cinema!; lembrar do meu Ensino Médio que não foi há tempo assim.
Fomos ao cinema e olha no que deu. Queríamos Moana e com muita resistência de ambas as partes, terminamos satisfeitos com Eu Fico Loko mesmo. Paciência. Coisas da vida. Acontece. Mas quer saber, e daí? São pequenas situações como essa que são capazes de tornar quarta-feiras de verão em muito mais do que simples quarta-feiras de verão.
Qual é, essa crônica nunca teria existido se eu tivesse assistido Moana.
Qual é, essa crônica nunca teria existido se eu tivesse assistido Moana.
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