Recordo-me de um passeio escolar que fiz à cidade de Vassouras (RJ) quando estava no 5º do Fundamental. Foi uma visita da qual não me esqueço até hoje. Conhecer uma cidade com uma presença tão forte do Brasil cafeeiro me marcou muito e eu acho que foi a partir desse dia que passei a gostar tanto de História. Lembro, também, de uma viagem à Petrópolis (RJ) no 2º ano do Ensino Médio e uma tour pelo Rio de Getúlio Vargas no ano seguinte. Todas, visitas que muito me marcaram. A sala de aula é um mundo, um lugar de aprendizado, descoberta e mudança. Porém, ver com seus próprios olhos tudo o que é ensinado consegue ser demasiado emocionante.
A perda imensurável do primeiro museu desse país, o Museu Nacional, na noite de 2 de setembro, me deixou um vazio no peito. É estranho pensar que o que esteve ali por 200 anos não está mais. É revoltante pensar a razão dessa ausência. As imagens do museu em chamas serão eternizadas em futuros livros de História. Não foi a primeira - mas espero profundamente que seja a última - que um lugar destinado a manter a memória viva foi tomado pelo fogo. O que nos mostra que, de fato, a História se repete - a primeira como tragédia, a segunda como farsa, já diria um certo pensador.
Nos últimos dois dias, me vi refletindo muito sobre essa tragédia anunciada. Me perguntei se eu mesma não relaxei quanto ao conhecimento. Talvez eu tenha perdido tempo demais reclamando ao invés de dar o devido valor a todo conhecimento que me é proporcionado de segunda à sexta. A universidade sufoca e tem seus (muitos) problemas, mas eu não sou a mesma desde que entrei ali e isso é graças a noção de mundo que me foi dada.
Ao final, cheguei a mesma conclusão que muitos: é preciso frequentar mais museus e bibliotecas. Isso significa transbordar de conhecimento em um mundo de notícias rápidas - e, por muitas vezes, falsas. Enriquecer a si mesmo. No fundo, é a mesma coisa que nadar contra a maré, ir contra a corrente. O cenário é caótico e desmotivador, mas é preciso resistir. Aprender. Estudar. Abrir os olhos para o que sempre esteve ali e você só não viu. Pensar. Para que os livros de História das futuras gerações não sejam somente carregados de imagens deprimentes.
Enquanto escrevo, minha memória me presenteia com outros dois momentos. Minha professora de História da América Contemporânea estava certa quando, no período passado, disse que tudo nessa vida se esvai, menos o conhecimento que você adquiriu. Namoros terminam, amizades terminam. O livro empoeirado na estante estará sempre ali para ser lido. Há alguns anos, minha mãe escreveu uma dedicatória que guardo com um carinho enorme que diz: "o sentido contrário é o nosso caminho, o caminho dos grandes filósofos, dos grandes escritores, das grandes descobertas".
E embora esse texto seja só mais um grito no silêncio, eu ficaria feliz se, pelo menos, chegasse aos ouvidos de alguém.