Mesa redonda: adaptações - dos males, o menor!

by - sexta-feira, julho 25, 2014

As Crônicas de Nárnia: O leão, a feiticeira e o guarda-roupa (2005): uma das melhores - e também mais fiéis - adaptações que já assisti. 

Cinema e literatura caminham lado-a-lado. Não é de hoje que livros ganham adaptações cinematográficas ou que roteiros cinematográficos se tornam livros (este, embora, com menor frequência). Apesar de estarem juntos há bastante tempo, a união entre cinema e literatura se intensificou nos últimos anos. Não é estranho, ao entrar em uma livraria, darmos de cara com um livro cuja capa é o pôster de sua adaptação cinematográfica. Ao estar no cinema, tornou-se comum lermos o peculiar crédito "Based on the book by..." (baseado no livro de...). Se para muitos esta união não resulta em coisas boas, para outros, ela é mais do que bem-vinda. 

Esta intensificação se deu pela escassez de roteiros criativos - um verdadeiro bloqueio, pode-se dizer - no mundo do cinema. Afinal, se está difícil criar algo bom e novo, por que não pegar um livro? A história e seu desenrolar já está todo pronto, os personagens estão na mesa se contorcendo para serem levados à telonas, e em muitos casos, uma legião de fãs já existente garantiria um alto número nas bilheterias mundias, coisa que nenhuma produtora de cinema seria capaz de resistir. Pois é exatamente isso que vem acontecendo. No entanto, não são somente as produtoras de cinema que gostam de se beneficiar com as adaptações, as editoras de livros também, principalmente na atual época, em que os jovens estão lendo cada vez menos.

Ao lançar uma adaptação cinematográfica de um livro, este, consequentemente, acaba ganhando lugares de maior destaque nas livrarias e muitos telespectadores, encantados pela história, se veem comprando o livro. São justamente estes livros que vão para o topo dos mais vendidos. Também são estes que, por uma tática de marketing, tem suas capas alteradas (e certas vezes, seus preços elevados) por uma referente a adaptação em questão. A menina que roubava livros, ao ter sua adaptação lançada nos cinemas no início deste ano, teve seu preço alterado de R$20,00 reais para R$31,00 reais. Não só isso, como sua capa também foi alterada, causando um desagrado por parte dos fãs. 

Se o livro que será adaptado conta com um vasto fã-clube antes mesmo de virar filme, entra em questão o seguinte tópico: o quanto é possível agradar a este público. Surge a seguinte pergunta: afinal, o filme é para quem, para os fãs ou para um público em geral? Se depender de boa parte dos fãs, cada página do livro deve ser transposta para o filme. No entanto, cinema e literatura são duas artes que se diferem. Se uma história pode ser contada em 500 páginas de um livro, um filme tem - no máximo - duas horas e meia de duração para contar a mesma história, resultando nos necessários - sim, necessários! - cortes. Sim, aquela parte era muito bacana, super engraçada, isso e aquilo, mas se não for um ponto principal ou de suma importância no desencadear da história, é compreensível que seja cortado. E, meu amigo, ele provavelmente será! Queira o leitor ou não. 

Os diretores precisam enfrentar também a séria questão da infidelidade - até que ponto pode se encurtar uma história? -, e é preciso lembrar que infidelidade no cinema não significa, de forma alguma, um filme ruim. Como já mencionei anteriormente, cinema e literatura são tipos de arte que se diferem em sua representação. Se para o leitor ávido, a adaptação foi péssima. Para quem nunca leu o livro, pode ter sido um filme legal. E justamente por ter agradado a este telespectador, que ele sairá da sala de cinema rumo à livraria. Para evitar que as histórias muito longas ou com muitos detalhes importantes sofram cortes, os filmes começaram a ser divididos em duas partes. Inicialmente com Harry Potter e as Relíquias da Morte. Depois disso, a lista de filmes que foram e serão divididos vem aumentando consideravelmente. 

Desventuras em Série (2003) - ótima adaptação, conta em um único filme a história dos três primeiros livros da série.

Alguns escritores fazem questão que seus livros ganhem adaptações fiéis, enquanto outros preferem não se envolver com tal produção. Independentemente disso, muitas adaptações consideradas infiéis são de extrema qualidade, quebrando com a linha de raciocínio de que "o livro é sempre melhor que o filme". Tomo como exemplo um de meus filmes prediletos, As Crônicas de Nárnia: A viagem do peregrino da alvorada, que apesar de ter tido muitos cortes, considero como um dos melhores da série! Vi os cortes como necessários, imagino o quão difícil seria contar tudo o que acontece no livro em um único filme. E que ao invés de me deparar com uma adaptação fiel, me deparei com uma que me divertiu por uma hora e meia. Ao meu ver, o importante é adaptar sem perder o fio principal, a essência da história. 

Vale a pena lembrar que as adaptações não surgiram depois dos livros. Antes, tudo era encenado, tudo era peça. Shakespeare não surgiu como escritor! Peter Pan, antes de ser livro e clássico infantil, era uma peça! Que adivinha só, teve toda a sua história - por trás das cortinas - contada em um filme: De volta à Terra do Nunca

As adaptações existem há mais tempo do que se pensa. Este foi somente um meio descoberto para eternizar histórias, para passá-las de geração a geração e torná-las menos efêmeras. Dos males, o menor, não? E que bom que Hamlet foi encenado e em seguida, registrado em um livro para anos depois, se transformar em um filme. É uma ótima forma para impedir que as histórias caiam no esquecimento. 

Mesa redonda é a nova área do Como Devorar Livros, cujo objetivo é debater sobre diversos temas. 
O que você acha das adaptações? Qual é a sua favorita?

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8 pessoas devoraram

  1. Parabéns pelo post! Você colocou muito bem as diferenças entre cinema e literatura, as vezes parece que as pessoas não conseguem discernir, fazendo com que gere aquele mimimi muito chato sobre cortes. Claro que alguns filmes realmente beiram ao ridículo na adaptação, como em Percy Jackson, mas alguns ficam tão perfeitos, como Harry Potter. Eu pessoalmente, adoro as adaptações, e acho algo muito necessário para atrair o interesse do público. Beijos

    http://desfocandoideias.blogspot.com

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Obrigada, fico feliz que tenha gostado! :) Embora todo mundo estranhe, eu gosto dos filmes de Percy Jackson. Se pensar neles não como uma adaptação, mas sim como um filme comum, não é ruim. É um filme que entretém, apesar dos pesares. :D

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  2. Amei este post!!!
    fico com raiva quando alguém critica um filme após ler o livro. É impossível fazer uma adaptação de um livro com várias páginas em apenas 1:30, 2 horas... que seja.
    assisti as Crônicas de Nárnia, mas não li os livros. mas um filme que assisti recentemente que achei muito fiel ao livro foi A Culpa é das Estrelas.Claro, acho que o fato do autor ter participado ativamente da produção dele cooperou para isso, mas eu achei uma excelente. É difícil ver filmes que, apesar de ter tantos cortes, ainda ficam com o mais importante do livro.
    Eu acredito que, quando um livro é adaptado ao cinema, acaba atraindo o publico para a leitura da obra, já que normalmente quem lê o livro antes de assistir o filme sempre solta a famosa frase clichê de: "o livro é muito melhor" hahaha
    mais uma vez volto ao exemplo da adaptação de ACEDE. já ouvi tanta gente dizendo que só leu o livro depois que viu o filme...

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  3. Eu nunca li Nárnia mas sei que é fiel :) amo de maisssss <3 Minha adaptação preferida é Harry Potter, eu nunca li os livros, mas se hoje estou lendo o primeiro é pq cresci vendo os filmes <3 Acho que é essa é uma função dos filmes...

    revistabooksplanet.blogspot.com.br/

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  4. Realmente esse é um assunto muito crítico... As vezes acho que um filme até se torna melhor que o livro como O diabo veste prada... o livro é bem chatinho e o filme é um dos meus preferidos... é claro que na maioria das vezes o caso é ao contrario mais não tenho tantas objeções a adaptações.
    Todo mundo me acha louca por que quero sempre ver o filme primeiro e depois ler o livro.
    Veja se eu leio o livro e depois vejo o filme fico pensando "mas que filme ruim", mas se vejo o filme e depois leio o livro a última impressão sempre será "mas que livro bom".
    Efim acho que é isso!
    Beijokas
    Jeh
    www.jeitodler.com

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  5. Estou comentando com bastante atraso, sei disso. Como já lhe disse, estive um bom tempo sem Internet. Mas gostaria de dizer que adorei esta nova área do seu blog. A novidade do Como Devorar Livros é muito bem-vinda, e o primeiro tema escolhido realmente causa bastante controvérsia.
    Discordo em alguns momentos de sua análise. Por exemplo: não acho que haja uma escassez de roteiros criativos. Para mim, o que há é o medo das grandes produtoras de que roteiros criativos não rendam dinheiro; é importante lembrar que esses blockbusters custam 100, 150 milhões de dólares, o que não é pouco. Assim, sacrifica-se a ousadia para que se possa abraçar o grande público, com filmes cada vez mais parecidos e pegando carona uns nos outros. Desse medo de arriscar, surgem inevitavelmente as numerosas adaptações de livros (nessa febre adolescente que começou com Harry Potter), sequências (Piratas do Caribe e Transformers, por exemplo, com franquias de zilhões de filmes) e remakes (em grande parte desnecessários, sem uma atualização que justifique a existência deles). Há alguns casos especiais, como os filmes de Christopher Nolan (Trilogia Batman, A Origem), que conseguem unir certa ousadia a um forte apelo comercial, mas isso é exceção. No próprio caso do Brasil, o que você vai encontrar nas salas são comédias todas iguais da Globo Filmes, embora o Cinema Brasileiro seja bastante rico.
    Agora, nessa questão das adaptações infiéis, acho importante reconhecer que Literatura e Cinema são linguagens bastante diferentes. Literatura não possui nem som nem imagem, ao contrário do Cinema; um filme você vê de uma só vez, ao contrário da Literatura. Não vejo sentido numa adaptação que seja apenas o livro filmado; se a adaptação não traz nada de novo, qual é o motivo de sua existência? Stanley Kubrick, um grande cineasta, provocava desentendimentos com vários escritores porque seus filmes eram adaptações muito infiéis. E por isso mesmo se tornaram clássicos do Cinema: os seus filmes eram cheios de personalidade, não eram meros complementos de obras literárias. Mas é claro que, numa adaptação que tenta pegar carona no sucesso de um livro, a mudança completa não vá ser valorizada. Trair os fãs dos livros é um suicídio comercial, então o que acontece na maioria das vezes são cortes por causa da duração dos filmes em vez de grandes alterações. E a indústria, de certa forma, encontrou um jeito de driblar os cortes também, numa estratégia positiva para ela mesma e também para os fãs: filmes divididos em duas partes.
    Enfim, eu escrevi demais, até porque a discussão é infinita. Podemos continuar esse papo depois. Mas acho que o meu texto enorme é uma prova de como o seu texto convida à discussão. Parabéns, Becca! Continue esse bom trabalho.
    Grande beijo.

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